1.4.08

caranguejo

deus deu-me um caranguejo
para eu usar debaixo da pele

um caranguejo
que não pára quieto

quantas patas tenho?
pergunta-me o caranguejo
quando se aborrece
e para que eu não me engane
belisca-me

em vão tento mantê-lo
sossegado
o caranguejo anda
por onde lhe apetece
e faz força
com as pinças
uma de cada vez

toco-me
ali anda ele

desce-me pela barriga
e esconde-se lá embaixo
aqui está quentinho
diz-me
e faz-me cócegas
sabendo bem
que não posso

nunca me apresentas a ninguém
e eu
a disfarçar

daí por vezes
a minha inquietação

a culpa é do caranguejo
que deus me deu

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