12.1.08

Pasífae

Foi apanhada atrás da escola
num terreno coberto de ervas onde antes,
muito antes, houvera uma quinta.
Era minha amiga.
Nunca me contou nada.
Até ao fim do ano,
os rapazes e as raparigas
iam atrás dela, a chamar-lhe nomes.

Vaca
Puta
Vaca
Vaca
Grande vaca

Era minha amiga
mas eu agora tinha vergonha
e tinha vergonha
de ter vergonha.
Ela - calada.
Olhava para o lado.

Vaca
Puta
Grande vaca
Abres as pernas
a qualquer um,
a qualquer coisa.

Ela
(calada, devagar)
passava.
Eu acreditava que, ao cruzar a esquina,
com certeza ia chorar.

Vaca
Puta
Grande vaca

Um dia, no balneário,
as duas sozinhas, vi-a
despir-se, vi:
as coxas altas de madeira polida,
os seios, ainda pequenos
(maiores que os meus).
Os pelos entre as pernas
negros sobre o bronze da madeira.
Seios e pelos olhando em frente,
como se não se tivesse passado nada.
Sorriu e agradeceu-me
por ainda me sentar na carteira
ao lado dela
e por fazermos juntas
os exercícios de ginástica.

Vaca.
Grande vaca,
que teve
o touro mais bonito da manada.

Sem comentários: