27.9.05

A birra

Dez minutos de choro bastariam,
se não me obrigassem a ser crescida.
Viriam ver-me chorar alguns brinquedos que perdi:
a bola que desapareceu pelo muro do quintal num dia frio;
a boneca que ficou debaixo de uma árvore depois de um piquenique;
o triciclo vermelho, esquecido no alvoroço de catar caricas na lama seca.
Todos únicos, todos insubstituíveis, todos grandes perdas,
todos assombrosos berreiros na separação.
E eu, manifestamente inocente, de goela à mostra,
sozinha num planeta inteiro de cúmplices perversos
que não arrancam os cabelos na minha desgraça,
que não se ajoelham em desespero comigo e
que ainda me propõem um sol ao lado do meu,
quase igual, nem vais notar, é tão bonito,
quando é claro que o mundo assim não pode continuar,
eu não posso continuar, nem mesmo com outra bola,
outra boneca ou outro triciclo.
Dez minutos.

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