28.8.05

Dedal

Usa o dedal
para não picares os dedos
- dizia-me a minha avó,
e eu não usava o dedal
nem picava os dedos.
Com a agulha desenhava carreiros
de formigas pela bainha fora,
pregava botões de dois e quatro olhos,
franzidos, fitas e colchetes -
trabalho de rigor e paciência
que me educou na medida dos minutos
para maior glória e beleza
das minhas bonecas.

Com a mesma agulha tentava
mais tarde juntar o que no meu
corpo a cada dia se separava
em metades: os seios, o sexo,
as ancas e também o olhar
tirando as medidas
ao chão e ao tecto da casa.
As mãos, uma de cada lado.
À noite, também sem dedal,
cosia e descosia no
meu peito os mamilos.
Vestia-me e despia-me em silêncio.

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