6.1.13

Enxoval




Minha mãe, borda-me
o peito com a agulha 
mais fina, com fio de seda,
borda-me o peito com flores 
e por entre as flores, pássaros
de bico amarelo, pássaros
que comam os bichos
e me tenham sempre bem asseada.

Manda-me estar quieta,
diz-me que não dói
e remata o último
ponto na dobra dos seios
para que o meu marido
mais tarde possa gabar
tanto o direito 
como o avesso do teu trabalho.

Cose-me depois a renda
à volta da cintura, como 
a dobra do lençol (a renda
antiga que tiraste das cinturas
das avós), cose-a 
com ponto miudinho 
onde a carne for mais mole, 
e deixa que caia até quase
esconder os pelos que começam
um palmo mais abaixo,
medido pela mão de um homem,
quase, para que eu nunca possa 
sentar-me sem fechar
as pernas. 

E para a boca, minha mãe, 
faz-me longas as cortinas,
com reposteiros para abafar
o ruído, e nos dentes
pendura-me pérolas, 
missangas, pedacinhos
de vidro colorido, 
- para que não seja 
por falta de sorriso
que eu fique por casar.

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