13.10.05

leite

depois de anos e anos a confirmar o silêncio
bebendo água à porta do seu oráculo de bronze
anos em que o corpo lhe inchou
desmesuradamente
a mulher, sentada entre as árvores,

um dia
rebentou

e dos rasgões abertos na pele jorrava,
vivíssimo, espumoso, o leite
de boca branca e aberta
derramando o ventre pela encosta

lá onde estavam as pessoas
a torrente fez retesar as narinas
o leite subia, ávido,
colando-se às pernas frouxas dos homens e das mulheres
falava-se baixo, cerrando os dentes
e havia quem subtilmente limpasse
um fio branco do lábio superior

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