Estando eu sentada debaixo duma laranjeira
a bordar lençóis, sozinha estava,
e puxei a saia e abri
as pernas para que o sol entrasse
onde nunca tinha entrado
e então nisto veio um passarinho
e pousou-me entre as pernas
ora
isto nunca me tinha acontecido
(era bonito e pequenino, o passarinho,
pardo com um olho amarelo de búzio)
Saltitava de cá para lá como
se estivesse contente por voltar ao ninho
e fazia-me cócegas
Para não o assustar pus de lado o bordado
apoiei as mãos na terra e mordi os lábios com força
ele devia ter fome porque começou a debicar
de mansinho como quem procura
grãos de trigo entre a erva
e fazia-me cada vez mais cócegas
era uma serpentina de cócegas a desenrolar-se
dentro de mim, do meio das pernas até à cabeça
e até aos dedos dos pés
e então
soltei uma enorme gargalhada
e quando olhei de novo ele tinha partido
(teria ido para dentro?, ainda pensei,
mas embora tentasse não conseguia ver)
De casa minha mãe chamou-me;
eu baixei a saia, dobrei o lençol, arrumei
as linhas e as agulhas de bordar e voltei
e nunca lhe contei nada
E ainda hoje isto me dá vontade de rir.
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2 comentários:
Muito bom! Já desesperava de ler um novo poema, aqui... :)
:)
http://prazeresminusculos.blogspot.com/2006/05/laranjas.html
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